DEPRESSÃO EM HOMENS

Acompanho a depressão há quase dez anos, atendendo no consultório individualmente e fazendo palestras em uma empresa de medicina de grupo. O objetivo das palestras é: triagem para avaliação psiquiátrica, informativo e reforço da adesão ao tratamento.
Nesses atendimentos sempre me chamou atenção o grupo masculino, e nesse artigo gostaria de destacar a depressão em homens.
A própria literatura trás que a doença atinge cerca de duas mulheres para cada homem, isso se confirma nas palestras que realizo, geralmente temos essa proporção. A dúvida é: será que temos menos homens ou eles não chegam ao consultório? Será que a forma que eles expressam os sintomas é diferente das mulheres?
Na minha prática percebo que eles têm dificuldade de falar de alguns sintomas da depressão e por vezes na triagem quando preenchem a escala de depressão pontuam distorcidamente, dificultando o fechamento do diagnóstico.
Na maioria dos casos eles trazem a depressão de uma forma mascarada, são eles resistentes em tocar nos seus problemas e tendem a mascarar a depressão por uma série de caminhos. Por exemplo, um homem deprimido diz que está com déficit de memória. Outro diz que está com insônia. Sabe-se que déficit de memória, raciocínio lento, insônia, etc., são sintomas de depressão. O preconceito masculino ou o desconhecimento e falta de contato com seu eu fazem com que o homem defina o sentimento dessa forma.

Mas, o mascaramento forma um índice alto e pode ser esse o motivo de termos menos homens em tratamento.

A depressão tem, geralmente, e como primeiro sinalizador, uma tristeza profunda e até este sintoma os homens costumam mascarar (a tristeza é feminina no conceito masculino). Então, eles a transformam numa raiva e irritação crônicas que acabam confundindo os profissionais menos avisados.
Na depressão masculina, vê-se também um grande contingente de homens recorrendo ao álcool para camuflar a tristeza; só que seu uso constante só faz agravar os sintomas do mal. Outros recorrem ao fumo, às drogas, a noitadas fora de casa com amigos, ao sexo compulsivo.
E as causas da depressão? A depressão tem causas psíquicas e funcionais. Dentre as funcionais, os neurotransmissores - serotonina, norepinefrina, dopamina e outros tem um bom peso. Neurotransmissores são substancias que carregam os impulsos nervosos de um neurônio para outro, fazendo as conexões. Se, por alguma irregularidade, genética ou não, os neurotransmissores sofrem qualquer abalo pode aparecer a depressão ou outro problema psicológico.

A depressão, seja ela por qual motivo for, tem que ser tratada. Há um risco de 15% de suicídios nas depressões não tratadas (principalmente nos homens). Fora deste encaminhamento extremado, sabe-se também que a depressão masculina favorece mais do que o dobro de chances do homem desenvolver doenças cardíacas, câncer, diabetes e outras doenças, além de provocar um envelhecimento masculino mais acelerado e uma deficiência de testosterona.

Em relação as causas psíquicas muito teríamos que discutir, o que sabemos que a depressão tem o seu trama psíquica e que para resolvê-la precisamos descobrir quais são esses conflitos e reelaborá-los tornando possível o caminho para a resolução da melancolia.
Há necessidade de olharmos com muita atenção a esses homens que podem estar sofrendo sem tratamento.

Publicado por Psicóloga Paula Alves CRP 06-60425